UMA INESPERADA SURPRESA
Ela me olhou de maneira diferente!
Quando cheguei tive um impacto; muitos velhos e velhas em estado avançado de idade e demência. Muito triste! Quase chorei! Precisava escolher alguém para uma entrevista. Um senhor me chamou a atenção, mas quando me aproximei senti a grande dificuldade na fala. Sem rumo olhei para aquela que me olhava de maneira diferente.
- Posso assentar-me na sua cama? Perguntei.
- Claro que pode. Senti que havia clima para uma entrevista. Ela aparentava uns setenta anos. Um vestido simples, cabelos negros bem penteados. Com três palavras posso presenteá-la: simplicidade, discrição, saudade! Notei manchas brancas em sua pele e dificuldade para caminhar.
Falamos do amor. Ela nunca casou, nem namorou! – Como? Perguntei espantada!...
- Não tive tempo. Minha mãe morreu muito cedo e o trabalho foi minha vida. Trabalhei em casas aqui em Itaúna e em Belo Horizonte. Gosto muito deste asilo onde vivo, mas sinto muitas saudades da família.
Depois de conversarmos sobre diversos assuntos ela, delicadamente, perguntou-me:
- Qual é o seu nome? Falei: - Eneida.
Ela arregalou os olhos e sorrindo falou: - Eu fui sua empregada – a Custódia.
Que surpresa! Lembrei-me sim e muito da Custódia. Toda certinha, só rezava e cumpria fielmente suas obrigações. Meu Deus, quantos anos!
Abracei-a e falei empolgada: - Quero dar-lhe um presente porque fiquei feliz de encontrá-la. Pode escolher: um vestido, um sapato, ou uma coisa de comer...
Ela olhou-me nos olhos e disse bem convicta:
- O que eu queria mesmo, era um fogão, para fazer meu café!