3 DOCES SÍRIOS
Dessa vez ele se sentiu ofendido. No começo nada disse, apenas abaixou a cabeça, e comeu mais uma esfirra. Levantou, pediu mais três doces sírios para viagem, espantou-se com o preço, mas fingiu manter a calma.
Pensou em cobrar explicações, preferiu a esquiva, e os três doces que trazia na bolsa de lona reciclada. Sentiu que ficando inerte, se acovardando e protegendo-se na sua casca, tinha cada vez mais o orgulho ferido. E mesmo assim preferiu, com prazer, confortar a ruiva e a manter envolta em seus braços. Não estava ali para alardear, e sim para fazer par, para ser companheiro.
Ela foi embora sem alarde, deixou um beijo nos lábios e uma caixa de remédio, para uma enfermidade que ele sequer, sabia se tinha ou não. Esperou um tanto o ônibus, e pensou um tanto mais no seu longo trajeto. Fez a aula da auto-escola com medo, aula de moto, e ele mal sabia andar de bicicleta. Porém o medo maior era de perder a ruiva, perder para ele mesmo, para o seu orgulho.
Foi para a casa, e ficou pensando sozinho em quanto como iria resolver essa situação. Falou com a sua mãe, e ela apenas disse: “então é essa a situação”, e pediu para o seu moleque levantar a cabeça e seguir enfrente. Justo ela, que enfrentou a sua vida, cruel e traiçoeira, com coragem e orgulho.
Na faculdade nem percebeu os olhares de um antigo rolo, nem a raiva que um ex-amigo despejava sobre ele. Não quis pensar em sexo, e mesmo assim pensou. Conversou no msn, coisas das quais ele nem lembra. Recebeu uma mensagem no celular, códigos, e ele sempre foi tão ruim nisso.
No sábado contou a história para um amigo, que ficou com tanta raiva da situação quanto ele. “É preconceito Mário”, afirmou com raiva nos olhos. Buscou explicação do porque nunca foi apresentado a família da ruiva, ergueu a cabeça. Lembrou da sua vida e percebeu que já havia superado situações mais adversas.