Gênesis
A madeira consumida pelo fogo estralava. Era o único som produzido naquele campo. O homem de preto estava sentado de um lado da fogueira a observando-a. Seus olhos a velavam completamente. Podia observar minuciosamente seus cabelos, olhos, o movimento de seu corpo ao respirar, sua língua umedecendo os lábios e isso a excitava.
Somente as estrelas no céu infinito podiam observar aquele momento, estavam completamente sozinhos e perdidos em um lugar mágico, longe dos adormecidos e perto da divindade. Por vezes, o vento soprava em seus ouvidos seu idioma ininteligível àqueles que não sabem o idioma da melodia sagrada do mundo. Estavam solitários de outros, mas completamente absorvidos pela presença um do outro.
Longos minutos passaram-se assim, como se o tempo e o caos pudessem não existir no universo. Então o homem de preto se levantou, olhou vagarosamente para ela. Seus olhos brilhavam a luz da fogueira, começou a cantar em línguas incompreensíveis. Seu canto era a melodia das coisas que não se verbalizam. A melodia do amor sem conceitos.
De repente, de uma flor nasceu uma linda borboleta e pousou em seu ombro. Eles sorriram e decidiram chamar a borboleta de Gênesis. A partir dali começariam sua história. Com este pressagio selaram seus votos de casamento e partiram com a promessa de que venceriam o tempo e o caos da existência profana como venceram naquele pequeno segundo de eternidade que compartilharam entre si.