Parnaso

O poeta cansou-se da forma como escrevia seus poemas. Decidiu então percorrer o mundo procurando novos formatos para expressar todas as coisas que não se verbalizavam. Por muito tempo este foi seu objetivo condutor.

Em sua busca encontrou um Haijin disposto a ensiná-lo a antiga arte do haicai.

Disse o haijin “a arte do haicai é contemplativa e de ausência do eu. Se um texto é um filme o haicai é uma fotografia. Apenas uma imagem. Nada de ação. Três versos com cinco, sete e cinco sílabas sem títulos.”

Ouvindo isso, refletiu: “talvez esteja no haicai o caminho para dizer sobre todas as coisas que não se verbalizam. Enfim, parece que minha busca termina aqui.”

Por meses o Poeta, agora Haijin, se dedicou à construção de haicais que ansiavam emoldurar a realidade com palavras, tentando extrair a essência da vida.

Mas com o tempo percebeu que não era bom com métricas, sentia-se limitado por padrões infinitos. Às vezes gostava de títulos para nomear o inominável. Às vezes as imagens em sua mente eram norteadas por ação. Parecia a ele que toda sua busca fora em vão.

Talvez teria sido se, em uma noite chuvosa de outono, não houvesse, por revelia, ouvido aquele sussurro, vindo do bambual feito de mil bambus ocos, e se iluminado em uma epifania que por um segundo pareceu ressoar por toda a eternidade.

Finalmente tudo se tornou inteligível a ele: O titulo de rebelde e herege sempre o agradara mais do que o de haijin ou poeta, pois em seu âmago compreendia que, não havia forma que poderia guardar o segredo de como falar sobre todas as coisas que não se verbalizam, assim como não haviam nomes suficientes para todas as gotas do oceano que beijavam a praia, restava apenas deixar que seus pés cansados se molhassem e descansar.

Ele aceitou a liberdade de sua limitação. Ao sair de seu confortável casco não encontrara o que buscava aprender, mas aprendeu o que necessitava buscar.

Assim o Poeta Haijin, que escrevia haicais que não eram haicais e poetrix que não eram poemas, decidiu prosseguir seu caminho vislumbrado em todas as partes do todo por todas as coisas que não se verbalizam e escrevendo, sem obedecer à hierarquia das formas, formatos e funções, apenas pelo prazer de descrever, construir e desconstruir.

Ele encontrou a poesia.