A DONA DO TEMPO

Não é que ela fosse uma Rainha má. Não era. O problema dela era outro – a vaidade exacerbada. Envelhecer era o seu pior pesadelo.

No dia em que, diante do espelho, ela encontrou um fio de cabelo branco, ficou desesperada. Arrancou fora o intruso e ordenou aos cavaleiros do palácio que vasculhassem todo o reino e destruíssem cada relógio que encontrassem.

A Rainha acreditava que, acabando com os relógios, o tempo pararia de passar.

Assim foi feito: não restou pedra, ou melhor, relógio sobre pedra...

E Sua Majestade pôde então dormir sossegada.

Semanas depois, no entanto, a Rainha tornou a achar outro fio de cabelo branco. Chamou novamente os cavaleiros do palácio e esbravejou com eles. “Deve ter sobrado algum desgraçado por aí!”, disse ela. “Saiam e só voltem aqui quando encontrarem esse maldito relógio!”

E lá se foram novamente os pobres cavaleiros.

Procuraram dias e dias, até que descobriram um reloginho escondido no baú de uma velha camponesa que morava sozinha a muitas léguas da cidade.

“Por favor, não levem o bichinho embora, não!”, choramingou ela. “Foi presente do meu Joaquim, que Deus o tenha...”

Não houve jeito. O relógio foi levado ao palácio e aniquilado sem a menor compaixão.

E a Rainha, mais uma vez, pôde dormir sossegada...

Hélio Sena
Enviado por Hélio Sena em 03/02/2011
Reeditado em 22/03/2011
Código do texto: T2769413