Conjetura de morte em vida ou vida em morte
Pobre existência, ele não sente dor. Mas apenas medo.
Ele não sente mais desejo. Mas apenas saudade.
No lugar do frio, calafrio. Ao invés de calor, um fervor que queima sem vontade.
Ele se vasculha em busca de sentido. No entanto, sua realidade é um sono profundo. Uma calma tirana. Um sonâmbulo inerte cujo píncaro de sua consciência é um sonho embaçado. Muitos sonhos em um.
Muitas circunstâncias embalsamadas em si.
Pobre existência. Prolixa. Onírica. Oculta. Reflexo da própria discrepância. Tangência da própria solidão. Ser e não ser, ida e vinda sem fim.
Esse sou eu e vivo essa provável eternidade mórbida, repulsiva. Percebi que minha contradição não está no meu ser, tampouco no que eu penso. Mas na tal vida. Pois minha alma vagueia difusa, se espalha. Ela subsiste. Perdida e sozinha, ela vive. E, no entanto, estou morto.
Há algum tempo eu morri. Agora sou essa tal pobre existência, peregrina de mim. À procura de um regresso, ou de um fim absoluto.