Sobre cães e fatos

Conheciam-se desde os tempos do jardim de infância, e foram unha e carne até a adolescência. Depois disso, uma se mudou de cidade com a família e a outra permaneceu. Os destinos tomaram rumos diversos e passaram a rarear as conversas, até por telefone.
Poucas vezes por ano, cada qual ligava para a outra, no dia do aniversário e em outras poucas festividades, anotadas como lembrete na agenda.
Nem sequer conheciam bem os filhos, uma da outra, e mesmo os maridos, não se afeiçoaram muito quando foram apresentados, certa vez.
A primeira tinha dois filhos, a segunda quatro. Esta, amava animais, principalmente cachorros. Tinha nove ou dez, entre os que viviam, já morreram ou foram substituídos por papagaios, gatos, tartarugas...
O que ocorria é que ao conversar pelo telefone com a amiga, esta demorava-se por horas a fio a desvelar todos os detalhes da vida canina. Contava tudo, absolutamente tudo, sobre os cachorros: nome, sobrenome, pedigree, vacinação, gracinhas, pulguinhas,doenças, etc.
Do outro lado da linha, a amiga tentava sem sucesso, saber algo a respeito de sua vida, principalmente, almejava ouvir um pouco sobre os filhos.
Interessaria-se muito em saber como eram, o que faziam...mas em vão. A mãe dos rejeitados rebentos respondia numa única frase que estavam bem e continuava a contar cada detalhe da vida dos  cachorros, pomenorizadamente.
Quando entrou o ano novo, a primeira mudou o número de seu telefone, decidida a não comunicar o novo número à amiga.
É que não tinha grande simpatia por animais e se houvessem lhe perguntado, ela certamente diria que - odiava cachorros.
Lídia Carmeli
Enviado por Lídia Carmeli em 09/01/2011
Reeditado em 09/01/2011
Código do texto: T2719047
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