Por amar

Sofria do mal de alzheimer em estágio acelerado, mas Dora de tudo fazia para mantê-lo presente no agora. Enfim, desistiu. Passou a viajar com ele em suas memórias do passado, mais distantes do que o tempo em que o havia conhecido, o antes de haverem repartido uma vida inteira juntos...
Era domingo, e ele descrevia cenários que pareciam reviver sua adolescência. Falava com olhos sonhadores dos primeiros flertes, o primeiro beijo roubado de uma tal de Rosa, na pracinha da igreja...e sorria.
Ela não se fez de rogada, deixou-o um instante em seus devaneios, tirou o vestido de festa, engomado, há tanto tempo guardado no armário, vestiu-o, perfumou-se, sem esquecer do batom e dos brincos e foi ter com ele na sala.
Convidou-o para irem passear na praça, num gesto tímido.
Ele disse que ela era radiosa! Chamou-a de Rosa e ela pensou: Deu certo!
Vestiu-o às pressas com terno e gravata e saíram os dois muito elegantes, de braço dado, sentando-se no banco que ficava de frente ao pequeno sobrado onde morava o casal.
-Vamos dançar! sugeriu ansiosa pela oportunidade de não fazer o papel de mãe dele, naquele momento..
Ele assentiu, galante, e Dora aproveitou para roubar-lhe, cheia de saudade, um beijo apaixonado.
O derradeiro.
Lídia Carmeli
Enviado por Lídia Carmeli em 09/01/2011
Reeditado em 09/01/2011
Código do texto: T2718562
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