O PODER DA FÉ
À nuca do prisioneiro o militante encostou o cano da pistola e engatilhou a pergunta:
– Acredita em deus?
Olhos arregalados, o padre balbuciava medo e indecisão. Ao lado jazia o colega de batina, fuzilado pelo sim.
– Acredita?
O padre hesitava a resposta. Um tapa destravou-lhe a língua:
– Não – respondeu. – Não acredito!
– Azar o teu – sentenciou o militante. – Vais morrer do mesmo jeito.
O gatilho se moveu. Do disparo, porém, nada se ouviu. Viu-se apenas o milagre. Do cano da pistola brotou uma exuberante flor cujo perfume inundou o coração incrédulo com uma fé intensa, avassaladora.
Súbita conversão. Nova revolta. O padre desmaiou na primeira coronhada.
– Desertor! – cuspia o militante, enquanto chutava o corpo ensanguentado. – Covarde! Logo tu, que devias morrer por Ele! Como podes negá-lO?
Pergunta retórica. O padre sequer respondia aos chutes.
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