Entre 3 pontos. O primeiro amor
Ela estava usando uma saia xadrez, foi a primeira coisa que notei, foi a primeira imagem que ficou para sempre a me perseguir enquanto crescíamos na mesma rua, mas em calçadas diferentes, eu do lado impar talvez já sinalizando cruelmente através do numeral, que meu amor deveria ser platônico e ela do lado par, talvez já sinalizando cruelmente que daria seu amor para quem soube-se dividir por dois, Gordinis, DKVs, Viscount, andavam e voavam pelo mundo naquele tempo do jurassic park e eu ficava de segunda época em matemática, contando quadradinhos pretos e brancos.
Quando finalmente, anos e anos depois, a minhas mãos, foi oferecido acariciar o tecido quadriculado, o mesmo já não era o mesmo, e eu mesmo, já cruelmente me enamorava frequentemente de outros tecidos com mais cor e mais textura, ou melhor ainda, de ausência de tecidos sobre as peles nuas, enquanto aquele tecido xadrez, passou a não significar mais nada para mim, a não ser uma soma de horas perdidas e que juntas contemplariam ver um eucalipto subir de uma muda ao rés-do-chão até virar poste, margeando alguma estrada de ferro ligando as estações de minha infância, adolescência, maturidade, fim da linha.
Ela enquanto isto, nunca mais usou xadrez, mas hoje eu tento lembrar-me dos quadriculados para sentir saudade.