Entre 3 pontos: NO METRO

As portas do metro fecharam num ruido de guilhotina, o vulto apareceu borrado tentando se diluir em meio aos passageiros, enquanto, os carros começaram a fugir em aceleração e o vento artificial sugado pelo túnel como embolo e seringa, refrescaram por um instante evaporando o suor sobre o corpo que pulsava após por toda aquela correria iniciada a 15 anos atrás – nunca havia chegado tão perto - e agora o desânimo e desespero desabava como um manto de chumbo o esmagando naquela estação.

Perseguia os mesmos olhos, a mesma boca, o mesmo rosto, o mesmo corpo, iguais ao seu, e opostos de seu oposto, sempre com aquela dúvida perturbadora: o tom da pele seria realmente a mesma e havia realmente trancado a porta antes de sair de casa para jogar bola naquela várzea sobre a qual o Shopping Center havia sido construído?

Apenas, procurando novamente uma pessoa por minuto entre os oito milhões de habitantes da cidade nos próximos 15 anos para tentar embarcar no metro antes que as portas se fechassem, e olhando naqueles olhos para ver refletido em seu brilho de esfera espelhada a posição de uma chave em uma porta a 30 anos atrás, poderia, descobrir, o que realmente havia acontecido com aquele corpo estendido no chão - bala perdida ou bala pedida - enquanto a bola rolava inocente num campo de várzea.

Taccari
Enviado por Taccari em 02/01/2011
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