AMOR DE MÃE
“Ser Mãe é padecer no paraíso”. Todos repetem. Eu mesma já repeti para meus filhos.
Porque este paraíso não é hoje, neste momento. Ter uma mãe que esporadicamente rodopiava junto com o meu pai nos salões de festa. Uma mãe que um dia foi bela e até poética. Uma mãe, jovem e cheia de vida, que os filhos veneravam e que na medida se fazia cumprir suas ordens. Muitas vezes ríspida e grosseira, com o meu pai e os filhos. Mais o seu amor muitas vezes a fazia calava. Fico então a pensar de como gostaria de ter a mãe dos tempos de criança.
Uma família numerosa de dez filhos. Carentes de um amor que nunca tiveram ou talvez não desse o respectivo valor. Todos os oitos filhos que hoje estão contigo, necessitam que o tempo de outrora, volte. O tempo de criança, onde ela tão sabiamente controlava. Na rédea curta, na medida certa, meu pai e seus filhos.
Aquela sim é a mãe que gostaria de ter neste momento, não está que parece uma esquisitice. Alheia a tudo e a todos. Cabelos tão alvos e ralos, brancos e sem vida. Com um olhar parado no tempo. Sem aquela iniciativa. Fica onde colocamos. Sentada na cadeira de balanço, sem saber como se balançar. Na cama, deitada, sem saber ao certo como se levantar, virar. Nada.
Muitas vezes eu fico a olhar. Cadê a minha mãe? Seu olhar não me diz nada. A mão junto ao seu colo, que muitas vezes me cobriu de palmadas, agora minha mãe, não tem a noção do que fazer com ela! Sem sentido. Às vezes fico a me perguntar? Que doença é essa que fez você perder a memória? Que doença é essa degenerativa? Que doença é essa que faz você esquecer-se de sua vida outrora? Que doença é essa que me deixa muda perante a você? Tem gente que diz que é uma chatice.
Hoje vejo minha mãe e penso. Eu ainda te quero. Não este tempo esquecido que você vive.
Mais uma coisa é certa. Amor de mãe é melhor do que não ter uma mãe.
TARTAY/dezembro-2010