A Espera
Todos os dias esperava que ela passasse, mesma hora, itinerário, sempre o mesmo local. Seus pais achavam estranho aquela mania, porém ‘coisas da juventude os anos levam’. Como belas lembranças de carnaval ou loucos arrastões, tanto faz, o tempo leva, essa é sua função, levar. ‘Espere passar...’ as palavras da última mensagem não faziam sentido. Esperava uma resposta, indiferença, acesso de raiva talvez, mas nada semelhante àquele ‘Espere passar...’. O que teria ela querido dizer com aquilo? Ligar e insistir numa resposta seria um risco, melhor mesmo era esperar que ela passasse, todos os dias, num deles criar coragem e, então, perguntar o que quisera dizer. Com as mãos úmidas e o coração na boca viu que ela se aproximava, e naquela manhã estava só. Apressou o passo em sua direção. Desmanchou-se todo e ao mesmo tempo encheu-se de ânimo ao ver que ela sorria.
— Bom dia! —, disse ele, gentil.
— Bom dia. —, ela respondeu.
— O que queria dizer?—, perguntou num sopro, quase inaudível.
— O quê? —, ela perguntou, ainda sorrindo.
— A última mensagem. —, disse, tonto.
—Ah! — ela pareceu lembrar-se: — Para esperar passar...
— Que, como, aqui, hoje?! — ele não sabia onde pôr as mãos.
Então seu olhar ficou sério e, ácida, ela falou:
— Deixe passar pois não dá pra você, moço! — e baixando o tom de voz: — Foi isso o que eu quis dizer... Desculpe. — Deu de ombros e seguiu. Não olhou para trás nem esperou reações, muito menos a que veio.
A vida de ambos em frangalhos, retalhadas num ato sem pensar.
E ele ficou lá, parado, naquele dia, naquele local, esperando o tempo cumprir sua função. Em vão: não houve um só dia, um dia só, em que ela tenha deixado de passar. Numa outra dimensão, passaria... Era sua única esperança.
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