SEQUESTRO APRESSADO

Regressavam de mais uma sessão terapêutica, o filho do empresário e sua mais nova babá (a décima quinta, para ser exato). De repente, o barulho de uma freada brusca. E dois homens encapuzados descem de um opala verde, arrebatam o garoto e arrastam-no para o carro. Vidros escuros, placa encoberta – partem cantando pneus.

Antes, porém, um dos homens deixara o seguinte bilhete: “Aguardem contato. Não procurem à polícia”.

Qualquer vacilo o garoto pagaria com a vida.

*

À noite, ligaram exigindo o resgate. Deram um prazo de quinze dias para que o dinheiro fosse levantado.

Apesar do valor exorbitante, os pais do refém comprometeram-se em pagá-los a tempo.

*

Na tarde seguinte, os sequestradores tornaram a ligar. Mostravam-se mais compreensivos. Aceitariam apenas a metade do primeiro valor. Mas encurtaram o prazo. Queriam a grana em dez dias.

Os pais concordaram.

*

No terceiro dia, o casal recebeu outro telefonema. Dessa vez o líder da quadrilha exigia somente um terço da soma anterior. O prazo também diminuíra. Cinco dias.

*

Veio o quarto dia e o telefone tornou a tocar.

Os bandidos pareciam mais impacientes. Perguntavam o quanto de dinheiro o casal já tinha em mãos.

A resposta não agradou. Queriam o dobro.

O pai argumentou que precisaria de mais uns três dias para apurar a quantia exigida; o gerente a quem pedira empréstimo mostrava-se relutante, burocrático demais; aguardava do banco um parecer que...

Quê?

Não pôde concluir a justificativa. O bandido desligara o telefone.

*

Mais tarde, enquanto o casal se arrumava para sair, um dos criminosos retornou a ligação e, condescendentes, resolveram aceitar o valor apurado até ali.

Combinaram então a entrega do dinheiro num ponto afastado da cidade. Asseguraram que o moleque seria solto ainda naquela noite, num parquinho abandonado.

O sequestrador ditou o endereço.

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A negociação estaria terminada se o pai não fizesse este pedido (inesperado pedido, quase uma súplica):

– Não poderiam devolvê-lo amanhã?

Espanto do outro lado da linha:

– O que disse?!

– Amanhã. É que hoje...

A voz criminosa carregou-se de indignação:

– O senhor está pensando o quê? Que isto é alguma piada de sogra?

Mais que indignação, desespero. O sequestrador berrava:

– Amanhã?! De jeito nenhum! Com este pestinha, não ficamos mais. Nem mais um dia, entendeu? Nem mais um dia!

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