CONTOS RÁPIDOS
TARA
Cascavel era um vem-vem. Ninguém dava nada por ele. Baixinho, esquelético. Confesso, cinquenta homicídios nas costas. Sabia-se mais... Preso, tornara-se evangélico, revelando-se gospel, cantante de salmos. Uma manhã, o diretor do presídio chamou-o ao seu gabinete:
- Cascavel, amanhã, você estará livre. Você vai embora.
Cascavel empalideceu. Ajoelhou-se aos pés do diretor, suplicante:
- Diretor, por favor, não. Não posso sair daqui, por favor, não...
Vinte anos de clausura forçada separava-o da realidade lá fora, ponderou o burocrata da penitenciária. Decide-se:
- Cascavel, você fica mais uma semana. Verei o que posso fazer para mantê-lo aqui legalmente.
Cascavel beija as mãos do diretor, agradecido. Sai do escritório irradiando felicidade, já pensando na próxima quinta-feira, dia de exibição de filmes na cadeia. Sentado, lá de cima, religiosamente, com um canudinho de talo de mamão acertava a careca do diretor com caroços de feijão. Orgasmava-se, satisfazendo seus instintos mais primitivos...