COLETIVO

Era noite, não mais fim de tarde, e o ônibus já podia correr desimpedido sobre o asfalto. Ele estava sentado e não pensava em nada além de chegar em casa, simplesmente deixava o mundo passar lá fora. Foi quando aquele sujeito chamou sua atenção, no ombro esquerdo por debaixo da manga da camisa emergiam pelo menos duas tatuagens, no antebraço direito havia outra com algo escrito que não dava para ler, nas costas uma mochila preta. O sujeito não era gordo, porem um pouco além do padrão, ele podia enxergar que por dentro da camisa de malha existia alguma banha, era de pele branca com cabelos preto, cortados acima das orelhas, e cheio de pequenos cachos. Era só uma figura curiosa, nada que perturbasse a viagem, até entrar em cena o amigo do sujeito. Antes que me chamem de racista, quero deixar claro que, eu narrador, estou apenas descrevendo o angulo de visão do personagem e que isto valha para todas as minorias, maiorias e a quem possa se sentir ofendido. Falo isto porque o amigo do sujeito era negro, o bigode se encontrava com a barba num fio tão fino que só um excelente profissional poderia esculpir, parecia bem limpinho. O problema era que parecia muito nervoso, olhava para todos os lados, como se procurasse algo. O ônibus seguia indiferente enquanto ele observava a sena e nesse momento, como algo que despencasse sobre o seu corpo, veio a certeza: o amigo do sujeito não estava procurando algo, estava estudando o ambiente, aquilo era um assalto! A qualquer momento puxariam armas da mochila preta... Sim a mochila era perfeita, não tão grande para chamar a atenção e o bastante para caber dois revolveres. O balanço dos pneus nos buracos começou a o incomodar e o ar parecia impregnado de uma coisa ruim, ele olhava os dois e pressionava cada vez mais o estofado. Vagou assento e os dois sentaram lado a lado, o sujeito acariciou a mochila, parecia que ia abri-la. Em volta ninguém parecia notar nada, só ele que a esta altura sentia o corpo todo formigar. Foi quando o ônibus parou no ponto, o sujeito levantou e saltou. Na passagem deu para ler o que estava escrito na tatuagem “ Romeu”, nada mais gay que um homem tatuado com o nome de outro, olhou o amigo do sujeito e com uma coragem que a poucos segundos não existia pensou: será que ele é o romeu?

Gerald H Campos
Enviado por Gerald H Campos em 20/11/2010
Reeditado em 20/11/2010
Código do texto: T2625800
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