Egoísmo de nós dois
Verborragia. É estranho como necessito registrar cada um dos meus impulsos e sentimentos, quase como se fosse vital, feito doença, vício, impulso descontrolado. Preciso escrever para que a tempestade não me destrua, para que eu não me afogue nas minhas próprias águas turvas. E quando escrevo, fluo. Tomo banho na chuva da minha própria tempestade, e deixo que ela leve de mim tudo aquilo que me suga. Deixo que a minha tempestade te leve de mim, para que um dia, tu sejas só uma boa lembrança.
No caos da minha tempestade, encontro poesia. Lá, teu cheiro não exerce poder sobre mim. Lá, somos personagens. Teu destino em minhas mãos, nosso destino em minhas mãos. Mãos que digitam obsessivamente, que tiritam para escrever uma nova história. Uma realidade paralela, controlada pelas minhas digitais, escrita pelas minhas unhas descascadas. Uma realidade egoísta, um refúgio. Fechei minha porta para ti, embora ainda te observe pela janela. Longe o suficiente para não me ver, perto o suficiente para que eu te veja.
Dirás que eu que quis assim, te direi que eu fiz as minhas escolhas. Direi-te que escolhi o mundo ao teu lado, acreditando estar fazendo o melhor para nós dois, quando na verdade, estava escolhendo por mim. Fui egoísta, acelerei demais e bati em uma árvore. Não enxerguei a dimensão dos meus sentimentos. Fechei os olhos para a minha obsessão.
E agora, aqui estamos. Eu, aprisionada no meu reino de mentiras, e tu, ao relento.