TELA
Toda vez, de madrugada, quando a rua se acalma, escuto o barulho do mar. As ondas vem e se recolhem num som de precisão constante. Da janela do meu quarto consigo enxergar a solidão da multidão de amanhã. Nas ruas, os sinais mudam de cor sem ter a quem parar e o asfalto imóvel parece congelar o tempo. As luzes dos postes não vencem o negror do céu e o dia cobra caro nascer. A cama amaçada é uma escultura das minhas tentativas de dormir, uma parte de mim queima, outra apaga-se no frio que não é real. Apesar de tudo, ainda continuo aqui, neste instante que nunca acaba.