UM CORPO QUE CAI
* Nadir Silveira Dias
Domício estava feliz. Bem ali no limiar de incomodar os infelizes e deixar alegres os não-infelizes. Felizmente hoje não havia dos primeiros. Foi proveitoso o ensaio, sem dúvida alguma. Ah! Que gostosos os bombons com que brinda a todos a Jojô.
Na mesa, o pão de milho, o mel de flores de eucalipto, o pão de aipim, ambos batidos, ligeiramente engordurados na casca macia, há pouco comprados na Feira Livre, o café preto solúvel, aromático, gostoso, dos poucos que existem neste imenso Brasil, para o consumidor comum. Sim, porque o especial, o caixa alta, vai tomar café brasileiro no exterior.
Da janela vizinha, o choro incontido da menina dos vizinhos, com menos de sessenta dias. Cólica? Dor de ouvidos? Não gostará de banho? Ou da inexperiência dos pais novos?
O cachorro de um outro vizinho, abastado, de grande terreno, está de férias, creio, pois apesar de estar lotado na janela do quarto de Nagib, há dias não late, não gane, não uiva. De fome, talvez sede, ou de falta de disciplina mesmo, sabe-se lá. Dos donos.
Você sabe para que serve um cão de guarda que late para tudo? Mosca, pardal, sabiá, tico-tico, pomba rola, barata, descarga de banheiro, espirro, ou abrir de porta?
De relance, um pouco antes, ainda escuta o seu Figueirinha dizer para alguém que o amor de mulher é real.
Ao longe, um só estampido. Seco, fulminante.
Um arquivo apagado ou mais uma inocente vítima da falta de segurança?
* Escritor e Poeta – nadirsdias@yahoo.com.br