ELE NÃO SABIA...
De longe, a silhueta parecia frágil enquanto apreciava o assovio do vento, o balanço dos galhos já quase desprovido das incontáveis folhas.
Seu corpo, ora rolava em brincadeira, ora se estendia sobre o chão de natureza desfalecida, em contraste com o céu azul.
Não havia a dança do verde. As folhas sentiam-se fragilizadas, temiam um movimento mais brusco.
Da primavera e verão, apenas um leve sobejo das cores e da alegria.
Era sempre assim que o outono se apresentava ao jovem e inocente sonhador que aspirava dirigir trator, montar touro bravo, cavalo selvagem, desbravar sertão, conforme histórias que ouvia desde menino.
Era esse o discurso que fazia aos quatro ventos e, nenhum deles até então lhe havia dado a merecida atenção.
Prosseguia ele na labuta diária: dia após dia caminhava para extirpar as ervas daninhas que ousavam se instalar nos campos e prejudicar o período de plantio que viria.
Por vezes, a vida lhe parecia injusta, mas não sabia ao certo, o que era verdadeiramente justo. Não entendia muitas coisas e não se fazia entender em tantas outras, contudo, uma coisa era tão certa como dois mais dois somavam quatro: ele conhecia a natureza. Sabia, intuitivamente, que havia um tempo para cada coisa deste mundo, criado para ser amado e cuidado.
Deste modo corria ele pelos campos, amealhando as sobras de outro tempo, de uma outra estação.
O que ele não sabia, era que ao simples toque, a natureza viva lhe sorria, o sol aquecia seu acriançado coração e o protegia das almas frias e sombrias que comumente acompanhavam o inverno. Sim, o inverno, cuja gélida face se insinuava na sombra do outono.
Ele não sabia...