O cadáver e o gentil leitor

O cadáver e o gentil leitor

Por Ramon Bacelar

Respiração ofegante, olhos atentos, olha para direita, esquerda, cima, mas só abaixo é arrebatado pela pergunta que não quis calar, e que agora se transmuta na resposta que se recusa a morrer: interrogação serena, agora exclamação histérica.

Retina invadida pela realidade fria, rígida, macilenta e impedidos de dialogar com outros olhos pela falta da energia vital, os seus agora percorrem o pescoço esquelético, as maçãs ossudas, vislumbra a língua paralítica, mas eles não reagem, não por falta de luz ou breu persistente, mas pela carência de correspondência e sintonia. Toma coragem, encara-os novamente e é sugado pela espiral de escuridão dos dois abismos em fogo que agora o arrasta ao seu gélido universo monocromático.

E se agora você treme, sua e finge que não vê, é porque gentil leitor, estou feliz e saciado dentro de você.

FIM

Ramon Bacelar
Enviado por Ramon Bacelar em 21/09/2010
Código do texto: T2511444
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