DESENREDO
A manhã foi surgindo bem clarinha, surpreendendo Tião ali, todo quieto, lápis coçando a orelha, absorto, tentando elucidar o problemão que chegara no meio do sono e dele não conseguira dar cabo.
Foi Fátima que o tirou da morte tranquila que habita cada bocado de noite. Apareceu, sabe-se lá de onde, para tomar conta de seu sonho. E aquela presença era sempre o oposto de paz.
Ele revirou, recusou-se a abrir os olhos, mas quando percebeu que ela não iria embora, teve uma ideia. Iria usá-la para compor um samba pro enredo da escola. Pulou da cama, encorajado.
Mas deu merda, pois logo que ele levantou da cama, a fulana evaporou e sequer deixou vestígios.
E o homem ficou ali, prostrado, no acabrunhamento que aquela hora cinza lhe trazia. Prometeu que dessa vez iria por um fim nessa história. Mas como, se sequer conseguia tirar uns versos e umas rimas de uma relação tão triste?
Acocorado dentro da cabeça, agora já oca de sono e de sonho, desistiu de tudo. Antes porém, tentou guardar um resquício daquilo tudo. Escreveu com letras embriagadas Desenredo de Um Amor.
"Custe o que custar, vai ser esse o nome do samba".
Deitou e dormiu.