Cotidiano
Quando acordou tocava no rádio o Chico: “todo dia ela faz tudo sempre igual me sacode às três horas da manhã, me sorri um sorriso pontual e me beija com a boca de hortelã”. Levantou-se, tomou banho, café, lavou os dentes, saiu e foi esperar o ônibus. Coisa difícil, vaga pra estacionar; bom ter deixado o carro em casa, sem falar que, fora a fila dos ônibus, nenhuma outra parecia andar. No escritório, bateu o ponto, começou o trabalho. Nova lista de protocolos para preencher. Conferiu agenda, organizou tudo. Caso estorno de cartão, o primeiro. Quinze minutos antes do almoço, chega a colega Rosa e o espera para saírem. 'A Lazanha do Toni hoje está ótima.' 'Então vamos lá!' 'E o que fizeste hoje?' 'Mais protocolos, pra variar...' Ela sorriu: 'Normal.' Uma hora depois, volta do almoço, de volta ao trabalho: 'No final do dia passo pra te apanhar' -- pegaria carona com a Rosinha. 'Outros dez casos de uso... Coragem, vamos lá!' Final do dia, chegou Rosinha. 'E aí, tudo pronto?' 'Peraí, deixa eu arquivar...' Abriu a porta do armário e uma surpresa o esperava: uma pasta com 20 protocolos, iguaizinhos aos de hoje, todos lá, arquivados. Mesmos comentários, mesmas descrições... 'Penso sempre igual?', cogitou. Antes de pensar que enlouquecia, leu o bilhete e seguiu as instruções: 'Para não fazer tudo de novo, otário, não esqueça de colar este bilhete na capa da agenda antes de sair. "Eu sou você amanhã!" e você já viveu esta história! Um abraço e até a próxima.' Falou pra Rosinha: 'Fiz de novo! Me lembra amanhã de voltar ao neurologista?' Ela o olhou, estranhando, e só disse que tudo bem.
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Revisado em 17.09.2010