Aldo e Aimée
DOIS MICROCONTOS:
O pequeno caixão branco.
1. Carregou o pequeno caixão branco do filho nos braços, até o carro funerário. Agora ele tinha o seu próprio morto para venerar. Não precisava mais lembrar do falecido João.
No hospital.
2. Na hora de fazer você gostou, disseram no hospital, quando chegamos correndo.
O CONTO CURTO (continuando “Amor sem limites”)
“Na hora de fazer, você gostou”, - foi o que disse o atendente, quando chegamos correndo no hospital.
A barriga de Aimée quase explodindo, uma cachoeira de sangue descendo por suas pernas.
Não é normal. Não pode ser normal, das outras vezes não foi assim.
Esperou interminavelmente, na sala fria. Com uma ponta de otimismo aguardava o seu terceiro filho. Esperou horas inteiras. Dormiu na cadeira.
O útero pode não ser o melhor lugar do mundo para uma criatura, que a partir de um nada vai crescendo, se expandindo até esbarrar em suas paredes musculosas. Tem que sair. Tem que ganhar o mundo. Tem que quebrar o ovo.
Quando aquela criança saiu já estava morta. “Descolamento prematuro da placenta”. A criança pára de receber oxigênio e morre. Quando o sangue começou a sair já estava morta. A mãe está bem; tivemos que retirar o seu útero, porque não parava de sangrar. Tem que fazer o registro de nascimento e depois o atestado de óbito para poder enterrar.
Aldo carregou o pequeno caixão branco nos braços, até o carro funerário. Agora ele tinha o seu próprio morto para venerar. Não precisava mais lembrar de João.