Ela
Acho que o que encantava naquela mulher era sua disposição amena. Em casa sempre havia o que fazer, sem inquietações com o amanhã. Era hoje e todos os dias, sem dúvidas sobre o sentido do correr da existência, mesmo na mais comum das suas expressões.
Quando caía a noite eu estava sempre inquieta. A angústia surgia com o poente e me acompanhava até que uma nova manhã viesse me trazer alguma espécie de rotina. Mas nos dias em que passava em sua companhia, todo medo se dissipava. Ela arrumava e preparava, cozinhava e tecia, fazendo planos para o dia seguinte, como se fosse gerente de um grande negócio, constantemente empenhada em um novo empreendimento. E eram simplicidades: um vaso que ela iria refazer, botões novos para uma camisa que ainda servia, uma panela de feijão de molho, para o almoço. Isso me acalmava. Sem ela eu me esvaia em pânico e inutilidade.
Agora mesmo, que a noite já se fez e eu estou longe, ou ela está longe, sofro e preciso deixar de escrever. Até que a manhã venha.