CONTANDO CARNEIRINHOS
Era noite. Embarcou e se acomodou confortavelmente para mergulhar, àquelas duas horas, na fuga do mundo real em busca do estado inconsciente. O coletivo abordado transporia as montanhas de pistas íngremes, sinuosas e pontilhadas de precipícios de causar calafrios; ademais, cruzaria um sem-número de veículos, cujos condutores se orgulham de seus ímpetos camicases... Usaria, pois, como sedativo o sono, que queria contrair o quanto antes. Ao despertar, o ônibus, já recolhido ao abrigo, tinha a porta trancada e, em seu exterior, a total ausência de luz com movimentos estacionados na inércia. Isto não o perturbou: contorceu-se para o lado, voltou a cerrar os olhos e se pôs a sonhar com o canto matutino dos pássaros e com os primeiros raios luminosos, até o amanhecer.