Dona Izildinha

Rezava a lenda que Dona Izildinha passara já há algum tempo dos cem anos de idade.

Solteirona convicta, sua existência limitava-se basicamente a acompanhar da fresta da janela que dava para a rua a vida de todos os vizinhos e reclamar deles para o leiteiro, o padeiro, o carteiro e qualquer outro que fosse por algum motivo ter com ela.

Tinha todas aquelas famas comuns ao seu estereótipo: Bruxa, macumbeira, mal-comida na juventude (claro, nos dias atuais isso estava fora de questão, embora tenha louco pra tudo nesse mundo...) e daí por diante.

Muito estranharam os jovens da casa da frente que falavam alto na calçada, já tarde da noite, e ouviam o bom e velho rock'n roll quando Dona Izildinha saiu com uma bandeja cheia de copos descartáveis com o mais cheiroso chocolate quente que eles já tinham visto na vida. O normal, vindo dela, seria uma ligação para o 190.

Sorveram tudo, até a última gota. Delicioso, espumante, espesso e tendendo mais para o amargo que para o doce. Perfeito para aquela noite fria.

Dona Izildinha entrou de volta em sua residência, passou um pano na bandeja e da sua frestinha ainda pode ver alguns dos últimos jovens estrebuchando no chão, soltando sangue por todas as vias possíveis de seus organismos enquanto urinavam e defecavam nas roupas.

A falação cessara, a única coisa que quebrava o silêncio da noite era o bom e velho rock'n roll.

FIM

Betaldi
Enviado por Betaldi em 30/07/2010
Reeditado em 30/12/2019
Código do texto: T2409443
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