A vendedora de sonhos.
Estavam todos tristes pois nada de novo lhes acontecia há tempos.
Era só monotonia, e nada mais.
Eles não suportavam mais aquela dura realidade na qual só presenciavam, roubos, desmandos, corrupção, enfim, inexistia o necessário gerenciamento administrativo, norteado por posturas morais das mais nobres em benefício de todos.
Até que, em determinado dia, ao amanhecer, depararam-se com um novo comércio instalado na rua principal, o que somente poderia ter ocorrido durante a noite pois nenhum movimento estranho ocorria ali há anos.
Em seu letreiro luminoso com contornos de neon em dourado, pêssego e verde água, lia-se bem no centro: "A casa dos sonhos eternos".
Por si só sentiram-se todos intrigados com um nome que insinuava, à primeira lida, o desejo interior que cada um deles possuía de ter uma vida melhor no futuro.
Não resistiram à tanta curiosidade, e postaram-se à frente da porta da entrada aguardando que fosse aberta.
A excitação era geral. Falava-se e ouvia-se de tudo na tentativa de advinharem o que seria comercializado ali.
Foi quando a porta principal se abriu aparecendo um anão vestido todo de preto e com uma cartola à cabeça, sorriso enigmático, que com uma chave acionou as fechaduras elétricas das duas vitrines laterais.
A apreensão foi enorme quando as duas portas de aço começaram, vagarosamente, a subir.
Era uma nova funerária em cujos vidros se lia:
"A Vendedora de Sonhos" entre e escolha o caixão de seu gosto no qual passará sua eternidade.
Condições excepcionais de inauguração.
Não perca pois, afinal sua hora pode chegar daqui a um minuto e queira ou não terão que adquirir nosso produto para você.
É melhor que você mesmo escolha um do seu gosto para não passar o resto da sua "morte" depositado num lugar onde nunca quiz estar.
Ficaram todos estáticos e gelados, parecendo múmias desnorteadas pois não sabiam se riam, choravam ou saíam correndo dali.
Pense nisso por que isso não é uma possibilidade mas sim, uma constatação.