TECENDO A VIDA
 
Viciosamente, empurro a parede. A rede balança, armadores rangem. Por entre pálpebras espremidas retinas sob neo-cataratas úmidas, esbranquiçadas, procuram desembaciar um raio de sol. Arrasto a carcaça ao quintal, neurônios buliçosos identificam lerdamente pedaços de fios soltos. Limões-laranjas em amarelo-ovo coalham o chão. O vento açoitou na finada noite aliviando o frondoso Citrus limonum da carga pesada. Colho-os, costas reclamando. O mato nativo, beldroegas, chanana, salsa, quebra-pedra disputam espaço com cajueiros, acerolas, bananeiras, fios soltos... Preciso lubrificar os armadores, capinar... Rodeio a casa, sinto carência de nutrientes cerebrais. Deparo-me com o matutino estatelado sob folhas peludas do jerimunzal. As manchetes, supérfluas, ferem meu senso comum: futebol, futebol, política, política... Anestesia, bestializa, nos faz feliz ainda com fome. Mais terrífico: faz acreditar que não existe fome... Sinto-a, de tudo... Preciso juntar as pontas, os cotos de fios, fiar, tecer a meada...
À minha sombra, ela faz um muxoxo, não será dessa vez...
    

Joseoli
Enviado por Joseoli em 13/07/2010
Código do texto: T2375373
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