“Tu sabe vuá?”

Ele gostava mesmo é de jogar bolinha de gude. Mira certeira, habilidade acima da média, que despertava a admiração e respeito da garotada. Cresceu, deixou de ser criança – adolescência complicada e violenta no morro. Não podia nem mesmo ser chamado de jovem, e já estava a serviço do tráfico. Começou como fogueteiro, mas aquela mira certeira o conduziu a postos mais elevados. E foi num tiroteio com a polícia que ele provou que era hábil não só com as bolinhas, quando acertou a cabeça do sargento que tombou no meio da favela. A ira tomou conta do batalhão. Indignados, invadiram a comunidade, com cães e como cães, procurando o autor da proeza. Não demorou muito pra achar o menino que não era mais menino. Então, lá em cima, do alto da pedreira, com o gosto da vingança na boca, o tenente perguntou: “Tu sabe vuá?”. Foram as últimas palavras que o menino ouviu na vida.
Laerte Cardoso
Enviado por Laerte Cardoso em 01/07/2010
Reeditado em 09/07/2010
Código do texto: T2351848
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