UM CASO, NADA MAIS.

Foi por acaso que nos encontramos e no mesmo instante, apaixonados, nos entregamos ao amor lascivo que nasceu incontrolado.

Não havia dia nem hora para estarmos juntos e o dia só tinham razão de ser pela esperança de encontrá-la. Nossos encontros eram nas ruas, nas praças. Nossos beijos ardentes chamavam atenção dos outros.

Uma senhora que passava disse em voz alta.

- Deviam ir para o motel!

- Vamos?

Ela disse sim. Fomos. E a partir desse dia nossos encontros eram nas portas dos motéis. Conhecemos todos da cidade. Os finais de semana eram todos dentro dos quartos.

Esqueci família e filhos. No meu mundo não havia outra coisa, outro desejo que não o de possuir aquele corpo escultural.

- Estou grávida. O que vais fazer daqui para frente?

- Vamos deixar que nasça esse inocente. Eu quero ver qual a cara que terá.

- E depois, que vais fazer?

- Para minha casa, levá-lo-ei para criar. És jovem ainda, sem formatura que te dê profissão. Não tens como criá-lo e estudar ao mesmo tempo. Ele ficará comigo até que tenhas condições de assumir.

A máscara da decepção ficou estampada naquele rosto até nos despedirmos, revelando o duro golpe da realidade.

Afastamo-nos. Dias depois, numa rápida ligação...

– Abortei.

Nunca mais nos vimos. Os amigos comuns dando notícias de que estava bem com o novo, velho, amor reconciliado.

Muitos anos depois, nos encontramos. Estava bem diferente. Desencantada do amor, não quis reviver os bons momentos que juntos passamos. Perguntei o endereço, não quis dar.

- Para quê tu queres saber? Agora não me interessa mais. Quando te amei, quando estava disposta a deixar tudo para te acompanhar, quando estava decidida a renunciar a tudo para cuidar de nosso filho, tu me dispensaste. Tu achas que eu entregaria nosso filho para qualquer uma criar? Foi melhor meu organismo ter expulsado...

-Tu provocaste aquele aborto?

- E se tivesse provocado? O que tens com isso?

- Esqueces que ele era meu filho também? Ou não era? Será que era daquele canalha com quem ficaste no mesmo dia em que rompeste comigo?

O silêncio da resposta só foi quebrado pelo som dos passos se afastando. Ainda está bem nítida em minha memória a palidez daquele rosto quando se foi, talvez para sempre...