Fumo
Jean-Paul levou então a mão à testa, tatuando-a de dedos vermelhos. Precisava agora de um cigarro. Tinha as suas próprias razões para fumar. Tirou um do maço do casaco de cabedal esburacado. Dedos trémulos. Fumar um cigarro. Sentiu-se melhor logo à primeira passa.
«Já vou» disse simplesmente a quem ainda estava de pé, à espera de o ver tombar. Que esperassem mais um bocadinho. Ele tombaria. Assim que acabasse de fumar aquele cigarro. Fitou os adversários com a mesma firmeza com que acabara de pôr em causa todas as 40.000 páginas da obra de Husserl. A filosofia, quando azedava, tinha o dom de causar mortes ao acaso.
Atirou o cigarro para o chão, esmagou-o com a bota. Nunca fumava nenhum até ao fim. Não via razão para isso.
«O Inferno sou eu.»