O CORREDOR

A cela 25 do pavilhão C fica a menos de oito metros do muro da penitenciária e nela vivem amontoados trinta detentos.

Todos se dizem inocentes dos crimes de que são acusados e se sentem por isso, injustiçados.

Durante o banho de sol, enquanto jogavam futebol, os irmãos Miranda fizeram questão de chutar a bola exatamente para o lado do muro perto do pavilhão. Apanhavam rapidamente e reiniciavam o jogo com a bola molhada. Outro chutão e o muro ficando todo marcado.

Com as idas e vindas o desenho do terreno mais as construções ficaram bem nítidas dentro das cabeças criminosas dos dois. O sujo da bola na cal dava a perfeita noção da direção em que deveria ser cavado o túnel apelidado de corredor.

Foram trinta e cinco dias para que a escavação fosse concluída. A dificuldade maior era dar fim a terra retirada do buraco. A entrada do túnel era por trás da privada e toda vez que o carcereiro se aproximava alguém fingia estar usando para impedir a visão.

A fuga foi marcada para o dia da páscoa. Seria um ato ecumênico com a presença dos familiares da direção, dos carcereiros dos policiais e dos detentos. As celas foram abertas mais cedo e as filas logo se formaram para o banho e a primeira refeição.

Alguns detentos já estavam nos abrigos do pátio e por causa da chuva torrencial, o diretor mandou antecipar a entrada dos familiares num clima de total harmonia e paz.

Os irmãos Miranda foram os primeiros a entrar no corredor. Ninguém iria notar a movimentação pelo lado de fora. A chuva torrencial ajudou até a desbarrancar a saída do túnel junto ao muro.

Vinte e dois detentos ganharam rapidamente a rua protegidos pelo temporal, tornando-se apenas mais um, misturados aos cidadãos que seguiam para o trabalho...