Lábios no Conhaque
Há muito penso em Tomas, e é assim, sentado no fundo de um quarto cinza, numa cadeira velha com veludo vinho cor de bordel empoeirado, que o tenho na lembrança, como na primeira vez que o vi, num antigo bar na parte velha da cidade. Lábios no conhaque e olhos no Poema Sujo, tão sujo quanto ele, tão imensamente sujo e pretensioso quanto ele, guardando no seu cume a beleza involuntária dos cabelos emaranhados e dos olhos azul-macondo, numa mistura orgânica de corpos de fadas em conserva em garrafas de vidro enfileiradas na prateleira.
Há muito não vejo Tomas, e é na qualidade de homem-verbo que o guardo no fundo cinza de um poema, numa cadeira velha com veludo azul-macondo empoeirado, lábios no conhaque, olhos nos meus olhos, tão pretensamente sujos quanto os dele, tão involuntariamente escuros quanto os cor de bordel dele, que brilham. Brilham uma luz silenciosa de lábios no conhaque, lábios no conhaque.
“Que desejar olhos brilhantes, é tê-los.”