ARMAS E ROSAS

Aquele fino e pontiagudo metal reflete a fraca luz do ambiente , penetrando a alva pele. O líquido vai, aos poucos, tomando seu espaço. Uma expressão de prazer nasce em seu rosto abatido e cansado. As lágrimas perdem-se na imensidão que as separa daquele rio vermelho no piso do apartamento.

O beijo, agora parecia tão real , e o sorriso fazia-o voltar no tempo. Sentia o corpo leve , imaginava-se forte , mas sabia estar mais fraco que nunca. As imagens o perturbavam. A névoa impedia sua visão, gargalhadas ecoavam em sua mente. Um urro ensurdecedor é o porta-voz de seu sofrimento.

Volta. Coração acelerado. O sangue ainda está lá. A pintura escarlate do que fora sua vida até então. Os espinhos feriam-no. Um estampido e será o fim : tudo acabará como começou : de repente. A roleta russa gira, e sua vida imita-a. Fora ferido pela rosa, com a ilusão do amor. Um odor suave traz-lhe lembranças de um passado quase feliz. Com a testa porejada de suor, tem os olhos fixos no cano da arma. A rosa vermelha, o vestido vermelho , o sangue. Lembranças de um crime.

Os trovões e a rosa. As pétalas caem , uma a uma . Da mesma forma , a dor aumenta. São partes de sua alma , de sua vida. A tempestade começa , as gotas d’água misturam-se ao sangue, lavam o corpo, mas não a alma. O reflexo mais uma vez: a lâmina rasga o ar, dilacerando a pele criando a ferida, presenteado a morte.

Solta a arma. Com o rosto entre as mãos , lamenta profundamente, porém, é tarde demais. E a chuva não pára. Apartamento escuro, a fumaça do cigarro flui , faz cirandas ,e desaparece. Seu amor acabou, a rosa morreu ,a beleza já não existe, e as armas continuam a chacina , que nunca terá fim.

Gustavo Marinho
Enviado por Gustavo Marinho em 09/06/2010
Código do texto: T2310166
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.