AS MEIAS SUJAS

Natália parecia que andava só de meias pelo meio da casa. Todos os dias, a mãe encontrava suas meias negras, imundas, chegavam a ser nojentas.

Ela tinha preguiça de colocá-las de molho, e esfregá-las. Não adiantaria também, além de estragar o esmalte em suas unhas. Quase toda semana, fazia o mesmo ritual, embrulhava os pares sujos numa sacola de lixo e as jogava fora. E por muito tempo as meias ficavam negras.

A mãe saía pela manhã e voltava à noite. Não tinha tempo para reparar nos detalhes.

Natália estudava de manhã e á tarde ficava na casa da vizinha, que a olhava em troca de uma pequena quantia que a mãe pagava religiosamente todo início de mês.

Certa manhã, após levar à menina a escola. A mãe voltou para casa, e resolveu arrumar os brinquedos da filha. O que ela achou a surpreendeu: Os vestidos da única boneca “Barbie” estavam todos presos num pedaço de arame, feito um cabide improvisado, e o armário era uma pequena caixa. Os vestidos eram modelitos feitos a mão pela própria Natália. Restos de tecido que ela pegava no chão da casa da vizinha que era uma boa costureira. E os cabides de plástico tão pequenos, onde será que ela os arrumava? Ficou curiosa. Foi fazer o almoço, naquele dia estava em casa de folga. A patroa viajara. Ficou abismada com o talento da filha para a costura, e os cabides?

Sem falar para Natália sobre os cabides, não comprou novos pares de meia que viriam embalados em minúsculos cabides de plástico, ensinou a filha a lavar os pares de meia e a deixá-los pendurados no varal, imaculadamente brancos.

Natália não tendo mais cabides para pendurar as roupas de sua única boneca, resolveu mudar de estratégia e passou a vesti-la com tecidos menos encorpados. Resultado, quase levou uma surra, quando sua mãe encontrou suas meias-calça preta e rendada com um novo desenho, toda cheia de buracos. E as alças do sutiã que ela usava quando ia namorar, tinham virado o vestido e o cinto da Barbie que desfilava no corredor da vila onde elas moravam.

Gritou: - Essa menina só me dá prejuízos... A vizinha que escutava e sabia o porquê, sorria para si mesma, desejando ter uma filha tão criativa.

Aradia Rhianon
Enviado por Aradia Rhianon em 21/05/2010
Código do texto: T2270215
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