O TESTAMENTO
O TESTAMENTO
A turma estava sentada na sala de leitura. Meninos e meninas de sete a oito anos. Contavam suas histórias sobre seus pais. Depois de ouvir dez depoimentos, a jovem professora, ainda sonolenta, restos de sonhos da noitada anterior, levantou-se da cadeira,
quando a Camilinha relatou toda alegre, por pelo menos uma vez, tornar-se o centro das atenções. Tossiu, tentou fazer bonito: - Meu paizinho, Deus levou. A mamãe disse que ele deixou um testamento enorme. Os olhinhos das crianças se arregalaram curiosos.
Camilinha, continuou: Minha mãe disse que ele não deixou muitos bens, mas o testamento é grande, eu mesma vi, e tentei ler, mas não consegui entender, têm tantos artigos, art. 171 do CPP, artigo 122, e muitos outros.
A professora resolveu encerrar os depoimentos, olhando para o relógio, levantando-se, tentando desviar o assunto. Camélia levantou-se também, agarrou-a pelo braço e falou seriamente: - Eu quero continuar, agora que ele tá apagado, eu posso dizer, ele era mesmo um bandido, mas era meu pai, e daí?