O outro
A água escorre-lhe pelo corpo, generosa e cálida. Fecha os olhos e deixa que a invada por inteiro: suspira diante do bem-estar que lhe proporciona aquele momento relaxante. Uma torrente que a massageia, que massageia cada parte do seu corpo, numa carícia.
Sons – ou será mera impressão – atingem-na vagamente. Sons em casa? Ou sons de vizinhos? Ele que terá chegado, em busca de um contato, de uma simples conversa, de um momento a dois? Ele, depois de longos dias, tão espichados de angústia, atrás do seu sorriso, atrás de suas palavras? Envolve-se em uma espuma perfumada, vibra com a doce sensação de que voltou, de que uma aproximação se faz presente.
Sim, só pode ser ele. Inebriada com a idéia, enrola-se prontamente nos pelos felpudos da toalha. Novos ruídos fazem-se perceptíveis. Abre lépida a porta, na escuta. É toda expectativa. Na casa vazia, reina um silêncio total.