Machado sem Assis

Por Ramon Bacelar

Jogado, esquecido, abandonado. Pesaroso e pensativo, lembrou-se dos dias de glória, outubros cinzentos e noites sangrentas. Recordou sua infância quando não passava de um mero carvalho e chapa de aço; sentiu o suor escorrendo no cabo envernizado e a textura áspera do coágulo sanguíneo cegando sua lâmina, do odor carregado invadindo as narinas do seu dono e do seu sádico sorriso de satisfação, a sensação de dever cumprido. Nessas horas se sentia útil, livre da rotina de derruba de árvores e talhos de lenha: sentia-se "livre".

E agora, usado, manipulado e descartado, envelhecia e enferrujava no mesmo lugar em que seu dono um dia o tinha resgatado.

FIM

Ramon Bacelar é contista, crítico e ensaísta. Mantém um blog sobre cinema, quadrinhos, literatura e cultura underground (Maquinário da Noite: www.maquinariodanoite.blogspot.com) e publica contos no Recanto das Letras: http://www.recantodasletras.com.br/autores/ramonbacelar e em seu site pessoal Miragens Ofuscantes: http://www.miragensofuscantes.blogspot.com

Ramon Bacelar
Enviado por Ramon Bacelar em 07/05/2010
Reeditado em 19/05/2010
Código do texto: T2242441
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