Mais uma chance
Nunca ficava doente. Tomava chuva, ficava o dia todo com
os sapatos molhados, encarava com galhardia o vai e vem do
clima curitibano sem nem um espirro. Comia qualquer
coisa, em qualquer lugar e nenhum problema. Trabalhava
como voluntário num hospital e jamais contraiu coisa
alguma. No tempo em que fumava e bebia como um
profissional da noite, parecia mais que os vícios o
fortaleciam.
Dia desses teve uma febre tremenda, passou o final de
semana em claro com lancinantes dores de cabeça, o mal-
estar do corpo se espalhava à alma, ao universo todo em
redor. Creu que ia morrer, sozinho, no frio absurdo do
inverno inclemente. Mas o que mais doía e o preocupava era
as muitas desculpas que precisava pedir antes da ida final.
Não foi dessa vez. Agora está pondo em dia as dívidas de
honra que a morte não pode levar. Nunca se sabe do próximo
instante...