Guerreira

Naquele dia, a professora colocou para fora da sala de aula todos os alunos que estavam sem uniforme ou com o uniforme incompleto. Menos um. O Tonho estranhamente permaneceu em sala.

Ele não entendeu direito. Ficou quieto imaginando que ela não tinha visto seu sapato totalmente diferente... mas, ao mesmo tempo, tinha certeza que depois daquela inspeção carteira por carteira era impossível que ela não tivesse visto. Ficou encolhido naquele dia e durante décadas, orgulhoso do prestígio que tinha perante a sua professora de português.

Isso mesmo, décadas depois, descobriu que fora sua mãe que pedira por ele perante a escola, os professores, a direção, o porteiro, etc. Pedira para que o filho fosse aceito com o único calçado que tinha, posto que ganhara do pai ausente, e cavalo dado não se abre a boca.

Tonho hoje sente um misto de orgulho da mãe, principalmente por nunca ter lhe dito isso, e de vergonha de si mesmo, pela inocência, pelo desconhecimento e por não ter tido a oportunidade ou coragem de falar sobre isso com sua mãe.

25ABR2010