A Arte do Fim
Ainda não havia dormido quando o sol nasceu - logo, não acordou.
Os pássaros já cantavam, embora estivesse em uma grande metrópole, e o sol brilhava esplendoroso, naquela calma manhã de uma eternamente aguardada sexta feira. Resolveu não tomar banho - não faria diferença. Vestiu seu mais bonito (em sua modesta opinião) vestido. Um tom envelhecido de rosa, como os dos tempos de sua avó. Alguns laços, alguns babados, algumas rendas. Na altura do joelho, sem mangas. Perfeito para o dia, leve e fresco. Colocou seus mais belos colares e brincos de pérolas. Alguns anéis. Uma pequena coroa, e flores secas, para adornar os longos cabelos negros. Pouca maquiagem - um batom suave, algum pó nas maçãs do rosto, sombra nos olhos. Sapatos do tipo boneca, da mesma cor do vestido. E estava pronta.
Trancou a porta ao sair, e deixou as chaves no esconderijo habitual. E se foi. Ainda havia poucas pessoas na rua naquela manhã, mas fazia questão de cumprimentar a todos com um belo, grande e verdadeiro sorriso nos lábios. Sabia que às vezes um simples "bom dia" poderia fazer com que o dia de alguém se tornasse melhor, e tinha a intenção de fazê-lo ao maior número de pessoas que visse. Alguns a correspondiam, outros a ignoravam, mas a maior parte simplesmente ficava surpresa e não esboçava reação. No fundo de seu coração, esperava que, pelo menos durante aquele dia, alguém realmente se lembrasse dela.
Continuou andando até chegar a uma praça do bairro. Alguns idosos alimentavam pombos ou apenas passeavam, jovens se exercitavam, algumas pessoas liam, crianças brincavam. Observou à toda aquela explosão de vida à sua frente e, pela primeira vez se sentiu triste. O sol brilhava, o céu era limpidamente azul, uma pequena borboleta azul passou voando próxima a ela. E uma lágrima solitária rolou de seu olho, quando um pensamento de chocante realidade dominou sua mente.
"É realmente um belo dia para morrer".