Rogério era um homem calado
Rogério era um homem calado, vivia só em um apartamento num bairro retirado da cidade. Era muito cedo quando acordou com o telefone tocando, ele não queria levantar naquele domingo frio, mas vencido pelo insistente chamado, resolveu atender. Uma voz que ele não conhecia do outro lado deu a triste notícia: seu irmão estava morto.
O que se seguiu a partir daí, foram horas intermináveis de sofrimento, a dor da perda sufocava-o, lembrava da infância e dos momentos felizes entre as brincadeiras infantis. E lembrou-se do tempo em que uma briga entre os dois, separou-os, até aquele momento.
Seguiu tristemente até o cemitério e lá estava ele, dormindo a morte de uma vida interrompida por um acidente de carro, e ali ele chorou. Não via ninguém, não havia nada, somente o vazio entre os irmãos que a morte agora juntava.
Mas alguém chorava também, lástima, dor sentida, a dor do amor que se vai, e então ele viu Ema, a cunhada que nunca conheceu e imediatamente sentiu-se atraído por tão bela mulher.
Trôpego pelo conflito de emoções e sensações, louco em sua dor, não refletiu nem por um momento quando segurou o braço de Ema, e em seu ouvido pecou, dizendo-lhe o quanto ficava linda de preto. Sutilmente Ema retirou-se, enquanto Rogério a seguia com o olhar, divagando sobre o futuro de amor juntos. Mas o desprezo dela era imenso, e naquele momento ele não poderia dizer o que se passou no seu íntimo, porque o choro que Rogério chorou não era apenas de dor, mas da vergonha de sua alma miserável.
Um misto de remorso e amor dilacerou todo o seu ser, levantou-se e desculpou-se, tamanha insensibilidade de caráter. Chorou amargamente, cansou de sua vida e de tudo.
Foi quando passou Ema e lançou-lhe o olhar mais sensual e atrativo que tinha visto, no aperto de mãos da despedida, um número de telefone num bilhete perfumado.