SÉRIE: SITUAÇÕES – O CORTE
O funcionário da Companhia de Luz foi cruel. Sem dó nem pena, ignorando os apelos da empregada doméstica, aproveitou a ausência dos donos da casa e cortou a energia da residência. Quando o Seu João chegou a casa, a empregada, timidamente, apenas disse: “- Os homens da Companhia de Luz estiveram ai...” Não precisava dizer mais nada. O seu tom de voz e a escuridão que Seu João encontrou dentro de casa denunciavam o ocorrido. Geladeira vazia. Computador desligado. Internet desativada. Banhos frios. Quando ele pensou em banhos frios, lembrou das crianças: “- Ih! Daqui a pouco elas chegarão da escola!” E lembrou que estariam sujas, com fome e uma vontade danada de ver televisão. Mundo cão. “Filho da puta esse técnico da Companhia”. E os pensamentos fervilhavam soltos na mente do indignado operário: “Será que ele não tem mãe, nem filhos, nem aparelhos eletrônicos?” E resmungando baixinho, saindo portão a fora à procura de um amigo que lhe emprestasse o dinheiro para pagar a conta e restabelecer a luz, disse de si para si: “- Vai ver que um dia esse desalmado ainda morre eletrocutado!”