Conversando com a tristeza
Uma velha amiga chamada tristeza resolveu visitar-me. E eu, prontamente abri minhas portas para que ela entrasse. Convidei-a para sentar e iniciamos a nossa conversa.
- Como tem passado, querido amigo?
Disse-me ela, acomodando-se lentamente.
- Como você deveria saber, as coisas não andam muito bem. As decepções me visitam com maior frequência e trazem-me os velhos assuntos que eu preferiria esquecer.
Ela foi breve em sua conclusão...
- Mas é você quem também deveria saber o quanto esses assuntos são necessários. Pense a respeito dos fatos que os geraram. Pense na forma como você decidiu resolvê-los...
- Ah, tristeza... certas coisas deveriam ficar com o esquecimento, passeando bem longe de todas as expectativas, aquelas mesmas que de quando em vez passam por aqui.
- Não, meu caro. Não cometa esse engano. Não afaste o que chega, saiba vivê-lo plenamente. No entanto, seja consciente de que toda permanência é transitória.
- Às vezes, penso que não...
- Asseguro-lhe que sim.
- Mas, então por que o que é ruim tem maior durabilidade? Por que a existência é feita de momentos bons que ficam junto com a saudade, enquanto eu, passo parte desse tempo, entre suas visitas e o que mais não conheço? Será que é isso o que mereço?
- Não apresse as coisas, meu jovem amigo. Muitas serão as vezes em que ainda nos encontraremos. E isso se dará para que você sempre tenha em seu pensamento a certeza de que todo momento só é válido enquanto vivido e intensamente percebido, seja aqui, seja por lá, seja por onde você passar...
- Mas é isso o que me aguarda, diante do tanto que eu poderia viver?
- Não, meu caro. Não é só isso. Mas o resto, é melhor esquecer...
E ela se levantou, olhou-me profundamente e partiu. E quando eu me preparava para fechar as portas, lá estavam a saudade e a solidão, esperando por um convite que não foi sequer necessário...