A Bruxa

A Bruxa

Ahá, te peguei – disse ela, arrastando-o para o calabouço.

Quinze minutos depois, quando ela estava preparando poções, ele aparece.

- O que?! – exclama a bruxa – como você conseguiu sair de lá? E por que a pantera não lhe devorou?

- Quer um bolinho? – perguntou ele – eu dei um desses bolinhos para a pantera. Doravante ela não vai mais atacar ninguém...Quer ou não quer?

- Te afasta de mim! – berrou a bruxa – sou má, sou muito má, faço maldades para as pessoas. Você não viu os esqueletos lá no calabouço?

- Vi – disse ele, arrastando uma cadeira e sentando-se – por sinal aquele lugar precisa de uma faxina. E depois, de uma reforma. Conheço um pedreiro muito bom, você devia abrir umas janelas...

- Cale-se! – gritou ela – vou enfeitiçá-lo, jogarei em você agora uma poção que o transformará num leproso.

Rapidamente ela pegou uma jarra próxima ao caldeirão de poções e atirou nele um líquido gosmento. Ele não se moveu. A gosma escorreu no seu corpo e cinco segundos depois desapareceu por completo. Ele sorria.

- Isso tem um gosto muito amargo, sabia? Olha, preciso te explicar uma coisa...

Vendo que a poção não surtira efeito, ela passou a gritar e a gritar, jogando nele o conteúdo de outros frascos e jarras, gritava que eram poções malignas, capaz de transformá-lo num tuberculoso, num anão desmembrado, num réptil, até num aracnídeo caolho.

Nada. Os líquidos e as gosmas chegavam nele e como que por encanto, desapareciam. Ele lambia os beiços para experimentar os sabores e em todos fez um “blearghhh, que porcaria”.

Ela, cansada de tanto atirar frascos, sentou-se também sem dizer nada. Não compreendia. Apenas murmurava: sou má, sou muito má, sempre fui má...

- Então, você vai me deixar falar? Preciso te explicar uma coisa...

Ela fez que ia assentir, mas então, de repente, pegou um pequeno frasco que trazia atado ao seu tornozelo, um frasco com a imagem de uma caveira, e jogou nele com toda força. O vidro se partiu, saiu uma fumaça lá de dentro, além de umas gotículas, que escorreram pelo rosto dele. Ele lambeu os beiços. Depois soltou um “blearghhh...., que porcaria”.

Ela estava pálida. Ele tirou um lenço do bolso e passou pela testa. Não sem antes oferecer para a bruxa, que afastou a oferta com as mãos.

- Está calor aqui – comentou, olhando para os lados – O que você tem contra janelas? E esse caldeirão fervendo... Olha, terei que ir embora. Você vai me deixar falar, ou não? Tem uma coisa que você precisa saber.

- Sou má – repetia ela mecanicamente – muito má.

- Então?

- Fale – rendeu-se ela.

- Você não é má – explicou ele – você está doente, só isso.

- Doente?!!! Você é louco. Sou má, e cada vez que faço maldades, fico mais má. Mas hoje...Afinal, quem é você?

- Sou uma criança – respondeu ele, levantando-se para partir.

- Você não se parece com uma criança – gritou ela

- E nem você com uma bruxa – disse ele, fechando a porta atrás de si.

Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 20/03/2010
Reeditado em 08/12/2012
Código do texto: T2149096
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