MEUS CASOS
Seis da matina. Pensa em ir trabalhar, mas lembra que atualizou o site da TV na madrugada. A sua chefe tá de férias, e na TV ninguém se importa se ele é mais um caso de estagiário fantasma.
Nove horas o seu cachorro pula na cama, e reclama prontamente que está na hora de tomar uma fresca. Sentado embaixo da sombra interminável da sua árvore, acompanha o ir e vir da sua vizinha pela rua.
Lembra das manhãs em que tinha aquele corpo magro nu na sua cama, tempo em que podia preencher as suas horas cretinas com sexo barato. Hoje ele arrasta as manhãs com café e poesias antigas. E a menina superficial mesmo com as suas roupas mínimas ainda o ama, e talvez nunca entenda porque ele a deixou sem qualquer explicação.
A enfermeira brinca com a mangueira e fingir lavar a calçada. O poeta a observa. Tudo como há quatro anos, quando os dois fugiam da missa para trocarem beijos numa esquina qualquer. Ela ainda lembra que ele a traiu e que a largou três vezes. E mesmo assim ela o ama.
O poeta deita no seu sofá azul, o mesmo sofá azul em que perdeu a virgindade com a sua amiga modista. A modista adora as suas poesias, o poeta adora isso. Ele sequer lembra se terminou com ela de verdade. Almoçaram juntos no mês passado, a modista perguntou por quê? E ele preferiu o silencio diante do corpo do seu amigo
O poeta prepara um suco de maracujá e esquenta a sopa de legumes de ontem. Almoço fraco e solitário. Ele atende pela quinta vez seguida o seu celular – a cobrar. A menina mimada e atraente não o deixa em paz, e o poeta jamais será capaz de esquecer que ela o traiu, e que sumiu por três semanas.
O poeta vai tomar banho, masturba-se. A sua namorada mesmo depois de quatro meses não quer saber de sexo. Ele não consegue excita-la, e morre de inveja dos seus amigos que têm namoradas que transam.
O poeta chora e segundo Fabí: - não ama ninguém.