Novamente o sol
Novamente o sol.
Ela estava cansada; depois de tantos meses no hospital, tinha sido um grande esforço enfrentar o trânsito e toda aquela movimentação sem ter muita firmeza e equilíbrio para se sustentar sentada. Então, levaram-na para cama.
Seu filho, de cinco anos, ainda não chegara do colégio. Como ansiava revê-lo! Entretanto, sentia-se temerosa por sua reação. Afinal, sempre fora uma mãe ativa e atuante. Saíra de casa, cinco meses antes, inteira. Agora, voltava incapaz, dependendo de todos.
De repente, o menino, chega correndo; para na porta do quarto, num misto de curiosidade e de susto. Entra devagar e senta-se a seu lado. Ela queria abraçá-lo; contudo, os braços não se moviam... Desejava segurar sua mão; porém, seus dedos também não se mexiam... Tinha que usar a palavra. Falou: “Pode me abraçar!” O menino, imediatamente, aceita a sugestão.
Ela, emocionada, pergunta:
-Você está aborrecido comigo por eu estar assim?
-Não; o importante é que eu tenho mãe! Estou aborrecido com quem fez você ficar assim.
Nunca mais ela esqueceria essa resposta... Para o resto de seus dias, lembraria qual a importância de estar ali, viva. No entanto, sentiu-se na obrigação de não permitir que o filho carregasse a idéia de haver um culpado por seu estado... Assim, respondeu:
- Ninguém tem culpa. Tudo são coisas da vida. Nós devemos e vamos enfrentar os obstáculos.
Ela sabia que esta nova pessoa que surgia deveria ser forte, com a mente pronta para superar a debilidade motora. Afinal, seu filho em breve faria seis anos; e ele dissera que o importante era ter uma mãe. Assim haveria de ser.
Era o sol entrando de novo em suas vidas!