A noite do aniversário

A noite do aniversário

Maju Guerra

Como nascera meia-noite e meia, já estava acostumada a receber os parabéns do filho naquele horário, ele não esquecia. Foi, então, ao quarto dele, e pediu as felicitações adiantadas. Precisava dormir mais cedo, no dia seguinte haveria o almoço da família. Obedecido o costume, deitou-se, não demorou para adormecer. Horas depois, a casa em total silêncio, sentiu que alguém a acordava com suavidade. Lembra-se vagamente de ter-se sentado na cama, das luzes próximas e de receber cumprimentos com alegria e surpresa.

Acordou com uma sensação indescritível e diferente. Estava cansada, mas bastante feliz, parecia que participara de uma grande comemoração. Lembrou-se dos pais, da avó, dos tios e primos mais queridos... Como todos já haviam morrido, só podia ser criação sua. O melhor era deixar pra lá, sempre fora muito cheia de imaginação, mística, com certeza mais um sonho e pronto. Precisava se levantar e começar a providenciar as coisas necessárias para mais tarde.

Ao sair do quarto, passou pelo do filho que já estava acordado. Ele saiu para beijá-la e lhe disse desconcertado: Mãe, você sabe que eu não acredito nessas coisas que você acredita, só que essa noite foi muito estranha. Vi umas luzes saindo do seu quarto, ouvi umas pessoas falando baixo, você recebeu muitas visitas. Fiquei assustado, porque realmente havia alguma coisa acontecendo, achei melhor dormir. Ela lhe respondeu sorrindo: você notou, foi? Algo um tanto fora do comum deve ter ocorrido mesmo, também acredito. Bem, vamos é tratar da vida, seja lá o que for, já foi. Estou muitíssimo bem.

Os dois resolveram tomar o café da manhã com o resto da família, era dia de festejar. Não tocaram mais no assunto.

Maria Julia Guerra.

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