O Menestrel
“Lembra que o sono é sagrado e alimenta de horizontes o tempo acordado de viver.”
[ Amor de Índio [Beto Guedes - Ronaldo Bastos ]
Tocava e cantava na noite e, por isso, dormia cada vez mais tarde. O chato é que quase toda a madrugada tinha um sonho recorrente: estava sempre tentando escapar de algum lugar que o aprisionava. Às vezes era um lugar abafado, sem janelas, outras, um muro alto que precisava escalar. Já sonhara com uma torre sem escadas, uma construção abandonada, um buraco bem fundo, um pântano, um deserto com areia movediça, uma pedreira no fundo de um vale...
Acordava exausto, transpirando, mas relaxava e voltava a dormir. Sabia exatamente o que cada sonho significava. Não precisava de terapia para entender que palavra empenhada, compromisso, sentido de família, respeito, seriedade, amor pelos seus, consciência da responsabilidade do que significava para cada ser com quem convivia eram “as doces prisões” do seu cotidiano.
Vivia “conformado” com essa falta de liberdade. Não era propriamente um “sofrimento”, porém algo como um espinho no dedo... Ele sabia que estava lá. E, por ser assim, mesmo consciente de que não havia intenção nenhuma de romper com esses “grilhões”, sua alma livre não se rendia: inventava e inventava caminhos de liberdade, vôos em sonho, em poesia, em lindas canções de amor.